Como criar demonstrativos de remuneração que atraem e retém talentos

O que são demonstrativos de remuneração e contexto de mercado

Segundo o Estudo de Remuneração 2024 da Michael Page no Brasil, hoje o salário é o principal fator que leva as pessoas a mudarem de emprego. De acordo com a pesquisa, 84% das 6.647 pessoas consultadas apontaram este fator como o principal motivador para aceitar uma nova oportunidade. 

Contudo, hoje se vê com uma frequência alarmante um alto número de colaboradores que não compreendem completamente a própria remuneração, o que consequentemente leva a não conseguirem capturar o valor real do pacote total do que recebem.

Não é incomum no Brasil, por exemplo, um cenário em que um talento deixa de aceitar uma oportunidade ou sai da empresa X que lhe oferece um salário de R$10.000,00 + R$ 5.000,00 em benefícios + R$ 5.000 em equity para ir para uma empresa Y que lhe oferece R$ 15.000,00 em salário base, achando que está ganhando mais.

Nessas condições, quando candidatos dão ao contratante a sorte de entrar em suas empresas mesmo sem entender bem o quanto ganham, muitas vezes saem depressa para outras oportunidades, trocando “seis por meia dúzia” (ou até menos), se é que você me entende. Ou seja, duas empresas oferecem exatamente as mesmas coisas, quem comunica melhor seu pacote oferecido leva os melhores talentos.

Esse gap de percepção de valor é super compreensível uma vez que existem vários elementos de sua remuneração que não entram em suas contas em forma de dinheiro todo mês, e talvez por isso não levem tanto em consideração como deveriam: benefícios, décimo terceiro, FGTS, ILP, entre outros.

Demonstrativos de remuneração têm o intuito de resolver essa falha de percepção e tangibilizar para pessoas candidatas e colaboradoras o real valor do pacote total de remuneração que recebem ou virão a receber. Ou seja: seu salário base, bônus, incentivos de curto prazo e incentivos de longo prazo. E em um cenário ideal, esses demonstrativos deveriam aumentar sua capacidade de atração e evitar turnovers – o contrário do que se vê hoje.

Com isso em mente, para garantir que você não está perdendo talentos e engajamento e pagando o preço que tudo que tudo isso envolve, aí vão algumas dicas e como construir bons demonstrativos de remuneração.

Como construir demonstrativos de remuneração que atraem e retém talentos

Podermos afirmar que bons demonstrativos devem:

1) Ter um detalhamento completo da remuneração

Forneça todas as informações ligadas à remuneração ao talento, incluindo o novo salário, benefícios, ILP, ICP, e assim por diante em um lugar só.

Muitas vezes nem mesmo a liderança compreende bem as partes mais complexas do pacote total, como ILP (nem o seu nem de seus liderados). Então ter essas informações escritas é crucial.

2) Utilizar linguagem clara e concisa, minimizando termos técnicos demais

Explique todos os termos que possam gerar confusão em seu próprio corpo de texto, em um lugar de fácil visão. Queremos dispensar a necessidade de diversos bate-papos ao vivo para traduzir seu conteúdo. Talvez construir um glossário ou “balões explicativos” seja uma boa ideia.

Alinhe a comunicação ao tom de voz da empresa, transmitindo sua cultura e personalidade.

3) Explicar ILP de forma didática

Esses incentivos costumam ser os mais complexos de explicar. É importante deixar claro o que significam termos como cliff, vesting, valuation e strike price em um lugar visível no próprio corpo do demonstrativo.

Além disso, pode ser interessante tornar essa parte interativa, conseguindo transmitir o potencial de valor futuro do pacote (veja exemplo ao final do artigo).

4) Informe o valor monetário dos seus benefícios oferecidos

Muitas pessoas não entendem o valor real do que estão recebendo como benefícios e muitas vezes nem tem visibilidade de todos que possuem. Uma ideia interessante pode ser informar quanto esses benefícios valeriam na prática. Isso ajuda na comparação com uma oportunidade PJ de salário teoricamente maior, por exemplo.

Explique também como esses benefícios funcionam e/ou centralize na carta todos os links úteis para páginas que explicam cada benefício mais a fundo.

5) Pode parecer óbvio mas: conter as informações corretas!

Poucas coisas te darão tanta dor de cabeça quanto ter que reaver com uma proposta para uma pessoa candidata após um erro humano de digitação/alinhamento. Garanta que elas estão sendo feitas com atenção e cuidado e estão sendo revisadas.

6) Encantar o talento e tornar o reconhecimento memorável (e compartilhável)

Quando feita com um belo design, ela também é uma ótima oportunidade para o pessoal compartilhar sobre sua contratação/promoção no LinkedIn. Para isso, é interessante se ter uma versão que não mencione informações sensíveis, voltada apenas para postagem. Esse compartilhamento pode ser ótimo para sua employer brand.

Sabemos que, apesar de crucial, fazer esse tipo de entrega em escala, com todos esses pontos listados é um grande desafio quando o time tem milhões de outras tarefas e quando se depende de recursos do pacote Office tradicional para gerar os documentos.